Friday, April 27, 2007

Rock n'Roll


Bem, certamente que muitos mais posts virão com este título. Mas queria contrariar as inúmeras críticas que eu ouvi por gostar de AC/DC. Esquecendo o argumento óbvio de que são a melhor banda de rock de todos os tempos (porque pelos vistos usar argumentos lógicos não funciona :P), venho só explicar o que eu acho (num blog, "eu acho" é absolutamente redundante, não acham?) que o rock deve ter. O rock (n'roll) é para ser DIVERTIDO. Pode parecer estúpido, mas para ouvir música profunda já se inventou muita coisa e com um sucesso inegável, e vamos finalmente parar com a impressão de que somos todos ora políticos frustrados ou pitas de 15 anos sempre com canções pseudo-deprimentes. "Let the good times roll" como dizia o velho cegueta.
AC/DC ROCKS.

Monday, April 23, 2007

Os Artistas, ou Aqueles Que Queriam Ser Físicos

Uma conversa que fez correr muitas cervejas é a de saber porque é que alguém decide estudar Física ou Matemática (por uma vez que as podemos juntar), dúvida intimamente ligada à pergunta que todos fazem quando conhecem um Físico/Matemático: "porque é que vocês são todos esquisitos?".
O primeiro grande físico da História é conhecido por ter corrido nu pelas ruas gritando uma coisa sem nexo numa língua morta quando percebeu porque é que flutuava dentro de água. Talvez hoje em dia o conto soe engraçado mas quantos de vocês ao entrarem num banho refrescante, com o sol de verão a dar de cima e a costa mediterrânica à vossa frente, por entre os longos tons de azul pensaram: "Mas porque raio é que eu flutuo?". E muito menos fazem-no repetidamente até encontrarem uma resposta que vos faz esquecer qualquer tipo de noção de um comportamento aceitável em sociedade. A Física arrancou logo de mau pé e foi uma tradição que vincou. Ao longo dos anos, os físicos - ainda mais que os matemáticos - definiram a sua psicologia por produzirem questões de forma incessante, onde a pessoa comum em geral apenas vê o que é "natural".
Aqui entram de imediato pela discussão adentro os filósofos, reclamando a si próprios este defeito mental. Mas é importante aqui denotar a diferença entre esta casta e a dos físicos; o filosofo em geral debruça-se sobre questões de natureza humana - quer tenha haver com as sociedades quer com as mentes - e usa argumentos de ordem qualitativa, ao invés do físico que se preocupa sobretudo na maioria dos casos por questões que parecem totalmente irrelevantes que podem frequentemente revelar-se cruciais para o desenvolvimento do conhecimento da Natureza pelo Homem, mas que parecem francamente ridiculas aos olhos dos outros. Um exemplo que hoje se tornou evidente à nossa compreensão é a questão da gravidade. A questão posta por Aristóteles, Galileu e Newton, entre outros, foi a de saber qual era a razão para os objectos cairem. Hoje faz sentido fazer a pergunta porque lhe é conhecida uma resposta: a queda dos objectos vêm de se encontrarem num campo de forças gravítico. Independentemente de quão clara temos esta explicação na cabeça, em todo o mundo industrializado as pessoas têm a ideia de que existe uma razão para tal. Mas isto nem sempre foi óbvio. Com efeito, um europeu do século XII responderia que assim é (em palávras certamente mais religiosas), sem sequer entender como é que alguém se podia por tal questão, visto ser evidente que uma coisa deve cair; porque razão não cairia? tudo cai. É este mesmo sentimento de que as coisas são naturais que falta em geral aos físicos e aos matemáticos, cada um em áreas cuja fronteira não está bem definida mas que lhes são próprias respectivamente. Não admira, no seguimento desta linha de pensamento, que haja uma frequência superior de doentes de Asperger e de autismo entre os estudiosos de ambas as disciplinas. Pois que um dos sintomas que caracterizam estes síndromas é a incapacidade em desenvolver a noção de o que é natural e normal, um autista em geral criando na sua cabeça uma biblioteca de comportamentos que ele imita e que sabe servirem para dada ou outra situação, sem nunca criar uma verdadeira intuição criativa no que diz respeito ao seu modo de agir Uma das possíveis causas que se avançam hoje em dia para tal deficiência é o facto de estas pessoas terem dificuldade em imaginar o pensamento dos outros, em prever as suas acções e reacções, em espontâneamente reverem-se noutra pessoa.
Mas bom, voltando à questão, os físicos e os matemáticos têm bons motivos para serem "diferentes". Curiosamente, na Arte surge um movimento que tem muito a ver com isto mas que é totalmente diferente. Entre as pessoas que conheço, as mais estranhas são certamente das áreas em que trabalho (as duas em questão desde o início do texto), mas as mais extravagantes - ou aparentemente estranhas - vêm das artes. Todos nós sabemos qual é o papel da arte tal como nós a conhecemos: o artista "é um fingidor." (generalização de um dito poético de F.Pessoa). A Arte têm um propósito completamente oposto ao da Ciência em geral, o de mistificar a realidade, de a embelezar, denegrir, de a subjectivizar (ou de realçar a sua subjectividade), contrariamente às ciências cujo propósito é exactamente desmistificar os fenómenos, pô-los em leis simples e que permitam prever a evolução das condições presentes. Mas no caso dos primeiros, a sua motivação todos nós já a sentimos, pois todos já desenhamos algures um boneco qualquer ou nos pusemos a bater com os dedos na mesa para produzir um ritmo; a arte é uma das criações humanas mais ancestrais (se bem que na arte moderna por vezes é difícil perceber de onde veio a motivação para realizar tais obras), bem como a curiosidade. No entanto, esta última apresenta-se muitas menos vezes no seu estado obsessivo entre as pessoas como frequentemente se mostra entre os físicos e como o génio artístico se mostra entre as pessoas em geral. Os artistas levam em geral a sua profissão a peito, chegando mesmo a fingir a sua própria identidade. Não creio que a estranheza encontrada entre os artistas seja em maior parte dos casos genuína - como exemplo disso consideremos S.Dalí - mas que é genuína, sim, a vontade deles de o serem. De facto, os artistas são curiosamente dos poucos grupos que gostariam de ser como os mais coitados de entre os físicos/matemáticos. Certamente, serão os únicos pois, sobretudo aqueles que são socialmente atrofiados devido à sua curiosidade, não querem outra coisa senão ser normais. Mas entre os artistas é da própria natureza do seu trabalho criar coisas originais, criativas, e que ainda assim façam apelo ao universo psicológico, diário ou extraordinário de cada pessoa, sobretudo hoje em dia onde a Arte Moderna adoptou moldes mercantis como tudo o resto, e onde o que conta é a originalidade da ideia e a imagem do artista. O artista necessita de algo que lhe dê uma pose divina, não-humana, algo que exiba o facto de ele saber expor aquilo que todos sentem mas não vêm. O mesmo faz o físico com a realidade e é, como vimos, quase sempre diferente dos outros seres que o rodeiam. O artista, perito por excelência em "fingir que é dor/A dor que deveras sente", ou seja, em fazer seu e dos outros o que a nenhum deles pertence, incorpora esta atitude autista do génio físico ou matemático para pintar sobre si próprio a obra prima de genialidade que em si queria rever e expor ao mundo. Aqueles que se isolam para fazer contas e cobiçam a aptidão dos outros em calar a curiosidade que ferve no interior das suas cabeças não sentem tal vontade.
Mais uma vez, Deus deu os pincéis ao talhante e as facas ao pintor, ou como quem diz, nunca ninguém está contente com aquilo que tem.